Quarentena Feelings 1

Marcela Mazetto
3 min readJul 3, 2020

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Tenho pensado muito sobre minhas relações interpessoais durante essa quarentena, instigando minha mente e memórias a buscarem várias explicações e lembranças da tão comum causa e consequência que a vida teima em nos açoitar. E ensinar.

O primeiro texto do qual me forço a escrever, procurando inspiração e esperando que a fonte seca da minha cabeça jorre novamente, é para você que lê este início em algum momento do que pode ser os últimos dias de nossas vidas.

Ao longo dos nossos 14 anos de relação — com muitos altos e baixos assolados entre amor, ódio, brigas, paixonites de timing errado, a grande capacidade de perdão e ouso dizer, de insistência de ambas as partes para que nossa ligação nunca se perdesse –, hoje reflito sobre um dos presentes mais marcantes e antigos que você me deu.

Creio que eu tinha uns 13/14 anos e não entendi muito bem na época o quão significativo Fernão Capelo Gaivota seria não somente na minha vida pessoal, mas também, anos mais tarde, entre eu e você.

A história de uma gaivota que desafia seu bando procurando por liberdade, ansiando pela fuga do óbvio e buscando saber mais sobre o tal do amor durante suas aventuras. Tão semelhante ao pouco e muito intenso tempo que já vivemos em nossas vidas, mesmo que por entre caminhos diferentes.

Você já foi a minha gaivota mestre com o conselho “Fernão, continua a trabalhar no amor”, mesmo diante de tantas adversidades em que a vida insistia em dizer que não. Hoje encontrando o amor correto para investir, vejo o quanto em mim há de você, o quanto de aprendizado existe incrustado na minha personalidade grosseira e rabugenta.

Fernão também ensina para o seu bando mais sobre o perdão, sobre a liberdade que isso causa não somente ao outro, mas principalmente para nós mesmos. Já debatemos essa pauta antes, motivo de muita indagação da minha parte, mas compreensão posterior.

Fugindo um pouco do paralelo Fernão Capelo Gaivota — porém não muito –, vejo o reflexo desse presente que há muito tempo não fez sentido, mas hoje, vai muito além disso. A triqueta surgiu em minha mente enquanto procurava as palavras durante esse texto. O símbolo celta mostra o infinito e como todas as coisas estão conectadas de certa forma, me dando a ideia de linearidade circular… Talvez eu esteja em mais uma das minhas viagens por entre milhares de pensamentos, mas espero que você entenda (como sempre). O que quero dizer é sobre como a vida continua, milhares de coisas acontecem, pessoas vão e vem e quando paro pra pensar, as minhas favoritas continuam ao meu lado, sendo que uma das primeiras que me vem na mente é você.

Assim como a triqueta associa nossa vida a infinitas ligações entre espaço/tempo, futuro e passado, Fernão Capelo Gaivota surge do passado por entre minhas epifanias quarentenísticas pra me lembrar não somente o quanto gosto de você, mas quanto devo vários agradecimentos pelas suas aparições casuais em momentos cruciais por entre minha jornada.

Cada vez você se disponibiliza para absorver todas as minhas maluquices diante das minhas escolhas ruins, assim como para celebrar as vitórias que acontecem de maneira rara. Sempre espero pelos nossos encontros para ouvir as novidades e particularidades da região norte, por entre seus infinitos amores por morenas, sua falta de intimidade com o frio local que há muito tempo te acolheu nas manhãs gélidas de Martinus, entre boleros, carimbó e muita música dominando o ambiente, viajamos por entre os milhares cruzamentos da triqueta.

Como uma clássica jornalista, tenho problemas para concluir textos e pensamentos. Por outro lado, agradeço por essa luta interna pela continuidade, não somente de redações, mas da nossa coisa pessoal doida que se estende por tantos anos e assim irá se perdurar, da mesma forma que me permito deixar o fim desse texto em aberto..

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Marcela Mazetto

Jornalista, feminista, emputecida e exercendo a expressão no limite (ou não).