Fugas

Marcela Mazetto
2 min readNov 15, 2020

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Tento fugir de você há tanto tempo.

Como aquele velho dilema entre a droga e o usuário, quando eu achava que tudo tinha sido curado, você ressurge com toda essa enxurrada de sentimentos, sempre me colocando no meio de um tornado do qual eu não esperava.

Paro e penso quantas vezes já reprimi tudo o que eu sinto, ou tudo aquilo que já habita há tanto em mim, que nem mesmo sei me identificar sem a presença desses fantasmas.

Acho que somos um ciclo vicioso, desses que às vezes pode ser nocivo demais, mas é sempre incrivelmente bom. Como aquela dose de Jägermeister que se gosta demais, que o gosto é incrivelmente único, combina com qualquer ocasião, mas a ressaca, é o que impede de torná-la algo cotidiano em sua vida.

Quando a gente se encontra — em todos os sentidos possíveis que a palavra “encontro” exerce — o famoso 8 ou 80 acontece. É choro, pernas, cabelo, braços e tudo que existe misturado. E no outro dia, aquela confusão mental, a ressaca, desnorteamento, visão embaçada. Me sinto como um fone colocado num bolso, que sai dali sem nem saber o que aconteceu e porque está tão embolado, sempre cheio de nós.

Você procura estabelecer uma distância inexistente, e não sei porque diabos, dói. Sinto sua falta nos pequenos detalhes da vida, nos pequenos momentos que queria que você estivesse comigo. Seria egocentrismo demais da minha parte te querer em todos os momentos possíveis?

Nossa relação é uma droga. Em todas as vertentes negativas e positivos da palavra. Criei raízes e não gosto disso. Procuro fugir há anos de qualquer tipo de dependência, de envolvimentos profundos românticos, e assim, sem mais nem menos, você reaparece.

Lembro de uma velha canção em que define nossa relação do Nenhum de Nós. Escuto várias vezes e a dúvida ainda persiste.

Tento fuga para o outro lado do planeta e ainda encontro você ao meu lado.

Ando com meu carro pelas ruas da nossa cidade, com alguma coisa tocando no volume máximo que o meu som permite, esperando que os pensamentos da minha cabeça se aquietem, pensando se você também fica encucado, com essa mesma agonia cortante. Sobre o que poderíamos ter sido ou sobre o que ainda seremos algum dia.

Quem sabe, reflito, e deixo ir — dando de ombros -, mais uma vez, como tantas outras passadas..

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Marcela Mazetto

Jornalista, feminista, emputecida e exercendo a expressão no limite (ou não).